O tratado de paz entre Israel e os Emirados Árabes Unidos

Jefferson Ricardo
3 min readAug 23, 2020
Trump e Netanyahu em um encontro sobre Oriente Médio em janeiro deste ano. Foto: BRENDAN MCDERMID / REUTERS

No dia 13 de agosto, Israel e os Emirados Árabes Unidos (EAU) firmaram um tratado de paz. O governo americano foi o intermediador, já que ambos os países citados mantém boas relações com os EUA. O acordo normaliza as relações diplomáticas entre Israel e os EAU, além de planejar a cooperação das nações em temas como saúde, educação, etc. Inclusive um dos primeiros resultados do tratado foi a cooperação entre a empresa emiradense APEX National Investment e a israelita Tera Group para pesquisar uma vacina para a COVID-19.

Quem são os dois Estados envolvidos no acordo?

Mapa do Oriente Médio mostrando Israel (em azul) e os EAU (em vermelho)

O Estado de Israel como muitos devem saber foi fundado em 1948, após os horrores da Segunda Guerra Mundial. Entretanto o território dado ao novo país já era habitado pelos palestinos, povo falante de árabe e seguidor da fé islâmica, esse fato gerou um conflito que perdura até hoje. O conflito desde o início não era restrito a Israel e a Palestina, praticamente todos os países de maioria muçulmana entraram tomando um posicionamento pró-Palestina.

E os EAU por serem um país de maioria muçulmana estavam no grupo pró-Palestina. Por conta disso, diversos laços diplomáticos nunca foram firmados entre os Emirados Árabes e o Estado de Israel. Em apenas um ponto tinham afinidade, tanto Israel quanto os sete emirados que constituem os EAU (Abu Dhabi, Dubai, Xarja, Ajmã, Umm al-Quwain, Ras al-Khaimah e Fuejira) tem boas relações com os Estados Unidos e são considerados aliados dos americanos na região.

O papel do Trump

Seria uma inverdade dizer que o Trump não desempenhou um papel importante na realização do acordo. Mesmo que ambos os países já tivessem uma aproximação grande com a Casa Branca, os líderes de Israel (Netanyahu) e EAU (Zayed) tem uma relação muito amistosa com o atual presidente americano. O que com certeza auxiliou a finalização do acordo.

Outra questão que precisa ser levantada é o Irã, considerado uma ameaça pelos três países. Israel já vem se aproximando gradativamente de outros países árabes, justamente por que muitos compartilham o medo contra o Irã. Durante o anúncio oficial do acordo, Netanyahu falou sobre o tratado como uma tentativa de gerar paz e segurança na região e ressaltou que os árabes estão percebendo a importância de se unir contra o Irã (um discurso muito parecido com o adotado pelo Trump). Falando sobre o Irã, o país chamou o acordo de vergonhoso e repudiou veementemente a atitude dos EAU de normalizar as relações com Israel.

Um possível desentendimento

Apesar do otimismo gerado pelo acordo e sua importância, temos que fazer uma ressalva: os assentamentos israelenses na Cisjordânia. Israel de forma deliberada vem tomando posse ilegalmente de territórios pertencentes a Palestina. Medida que é criticada por diversos países e organismos internacionais.

O acordo fala sobre esta problemática, porém é interpretado de maneira diferente por ambos os países. Enquanto que os EAU falam que o acordo prevê o fim das invasões israelitas em terras palestinas, Netanyahu falou diversas vezes que apenas cedeu a um pedido do presidente americano de suspender as invasões. A Autoridade Palestina condenou o acordo, ressaltando a urgente questão dos assentamentos israelenses na Cisjordânia.

Sendo assim, precisamos esperar os próximos episódios para sabermos o que realmente irá se desenvolver. Já que, apesar de muito bem vindo, o acordo não consegue resolver anos de conflitos.

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Jefferson Ricardo

Jornalista | Trabalho no @jc_pe | Trabalhei na @folhape e no @tracklist