O eterno quintal americano

Jefferson Ricardo
2 min readApr 23, 2020

Após a chegada do atual presidente ao gabinete, às relações internacionais e grande parte do aparato diplomático de nosso país sofreu uma mudança evidente. Ocorreu uma alinhamento instantâneo com a diplomacia exercida pelo governo Trump. Mas o que isso representa ao Brasil?

Um alinhamento com os interesses americanos, representa um afastamento dos nossos tradicionais parceiros econômicos e diplomáticos. Durante anos o Brasil foi um país que investiu muito nas relações com o sul global (um dos nomes dados aos países em desenvolvimento ou emergentes, que em sua maioria ficam no hemisfério sul). Um bom exemplo de boas relações Sul-Sul, é a criação do Mercosul. Hoje, por exemplo, a Argentina é o principal comprador dos carros fabricados em solo brasileiro. Outro bom exemplo é o BRICS, grupo de países emergentes do qual fazem parte Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O grupo visa o aumento da participação dos países membros na economia global.

Ademais a agenda externa americana inclui a defesa de pautas que não são interessantes ao nosso país. Podemos citar a situação de Jerusalém, que é um tema sensível do qual sempre tratamos com cautela, visando continuar com boas relações econômicas com Israel e com os países mulçumanos. Entretanto, o presidente Bolsonaro anunciou ano passado a troca da embaixada brasileira em Tel-Aviv para Jerusalém, porém com a pressão de pecuaristas que viam uma possível retaliação nas importações de carne halal por parte dos países de maioria islâmica, decidiu abrir apenas um escritório comercial. Em verdade o alinhamento imediato não é com os EUA em si, mas sim com a administração Trump, pela qual o presidente Bolsonaro guarda uma aberta admiração. Portanto o alinhamento hoje existente, pode deixar de existir com uma possível derrota do Trump nas próximas eleições.

Mais recentemente, por conta da pandemia de COVID-19, tivemos embates de membros do governo e familiares do presidente com a China. As trocas de farpas é só mais um episódio da escalada de tensões entre nosso país e um importantíssimo comprador. A tensão gerada, juntamente com o alto preço que EUA pagaram, fez que cargas de materiais de proteção já compradas pelo Brasil ao governo chinês fossem para os EUA. O Ministério das Relações Exteriores deve repensar até que ponto é interessante para os objetivos comerciais brasileiros o alinhamento imediato com os EUA. Conseguimos o acesso a OCDE, mas a preço de quê?

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Jefferson Ricardo

Jornalista | Trabalho no @jc_pe | Trabalhei na @folhape e no @tracklist